terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

copa 2014 - Tranportes: País precisa investir em outros modais

GAZETA DO POVO 12/12/2010 | 00:07 | Vinícius Boreki

Não é difícil entender os motivos para a sobrecarga de demanda dos aeroportos brasileiros. A histórica falta de investimentos em outros modais de transporte repercute na incidência do “caos aéreo”. Hoje, existem duas opções de transporte entre as principais capitais: rodoviário e aéreo. Em um país de dimensões continentais, rodar pelas estradas do país é proibitivo, obrigando usuários a usar os aeroportos. “É um erro pensar apenas no transporte aéreo. É preciso pensar em alternativas para transformar o cenário”, defende o professor de Inteligência de Mercado da FIA/USP e do Curso de pós-graduação em Admi­­nistração de Negócios da UFPR, Ramiro Goncalez.
Direitos

Goncalez observa duas alternativas viáveis de implantação no Brasil: transporte ferroviário e navegação de cabotagem entre capitais costeiras (como Flo­­rianópolis e Rio de Janeiro). Em relação à primeira opção, o governo federal começou a discutir a implantação de um trem-bala entre São Paulo e Rio, orçado em mais de R$ 30 bilhões. Apesar do novo elo entre as duas principais cidades brasileiras, o professor critica o projeto, afirmando se tratar da “síndrome do novo rico”. “Em vez de trabalhar com o que é possível, trabalha-se com o luxuoso. Com a mesma verba, seria possível fazer um trem ligando Curitiba a Belo Horizonte, passando por São Paulo, Rio e Campinas”, argumenta.

Na avaliação do professor do Departamento de Transportes da UFPR Garrone Reck, implantar o sistema ferroviário, assim como aconteceu na Europa, seria um avanço e quebraria um intervalo de 50 anos sem melhorias no setor. “Houve investimentos inexpressivos no sistema ferroviário nos últimas décadas. Mas não é uma discussão simples, basta acompanhar a evolução do projeto do trem-bala entre Rio e São Paulo”, afirma. Para amenizar o movimento dos aeroportos, Reck sugere mudanças do sistema rodoviário em viagens curtas. “Não há benefício em usar as estradas para viagens acima de 800 ou mil quilômetros”, ressalta.

Para tornar projetos ferroviários possíveis, é necessário viabilizar as parceiras público-privadas (PPPs). Na opinião de Reck, um projeto de trem-bala ou implantações ferroviárias requerem participação do poder público e da iniciativa privada. “Somente o governo não teria como implantar um projeto deste porte”, diz. Apesar das críticas aos aeroportos, o professor diz haver possibilidade de implantar o potencial dos aeroportos brasileiros.

Gargalo

De acordo com Reck e Goncalez, a falta de infraestrutura de transportes adequada no Brasil impede um crescimento econômico maior. “Com a demanda futura de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, é bom haver planejamento estratégico e estabelecer metas de melhorias, mesmo que sejam para o longo prazo”, diz Reck.

Viagem sem incidente vira uma raridade

Atrasos, falta de conforto nas aeronaves, bagagens violadas e estrutura ineficaz são algumas das reclamações dos usuários do sistema aéreo brasileiro. No topo das críticas estão os locais para desembarque. Os aeroportos de maneira geral enfrentam falta de espaço para pouso dos aviões, dificultando a saída das aeronaves. Até mesmo os estacionamentos para carros dos terminais estão com capacidade comprometida. O problema é alvo de frequentes reclamações, por exemplo, dos usuários do Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba.

Somado a tudo isso, neste período do ano os passageiros encontram nos aeroportos e aeronaves funcionários insatisfeitos. Os aeroviários e aeronautas estão em plena campanha salarial e um acordo ainda parece distante – eles reivindicam um reajuste de 30% para as categorias que já têm piso salarial e 15% para os demais. Para tentar pressionar os patrões, os funcionários realizaram até operação-padrão.

Com tudo isso, ter uma viagem tranquila tem se tornado algo cada vez mais difícil no país. “Levei três horas até São Paulo e fiquei mais de uma hora no avião porque não havia ônibus para buscar os passageiros”, conta o gerente de marketing Cassio Santana da Silva, que percorre o trajeto Recife-São Paulo ao menos uma vez por semana.

No fim de ano, o usuário mais comum é aquele preparado para “uma guerra”. Sócia da Caminhos Operadora de Turismo, Roberta Redivo alerta que paciência é fundamental. “A pessoa sabe das dificuldades, mas a vontade de viajar é maior. Além de calma e tranquilidade, recomendamos ter conhecimento de seus direitos”, conta. Os três maiores medos, segundo Roberta, são de perder conexão, ter a bagagem furtada ou perdida e ficar muito tempo parado nos aeroportos.

Para diminuir a possibilidade de problemas, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estabeleceu acordo com companhias aéreas, Decea e Infraero. As empresas devem dispor de aeronaves extras e não praticar overbooking; o Decea deve aumentar em 14% os controladores de voo; e a Infraero deve oferecer equipes extras para fiscalizar aeroportos.

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