sábado, 25 de dezembro de 2010

Ausência de novas multinacionais empobrece perfil de profissionais O fim do movimento que trouxe grandes empresas ao estado preocupa analistasi

GAZETA DO POVO PUBLICOU  em 22/12/2010 MATÉRIA de | Breno Baldrat

Os benefícios tangíveis da presença de uma multinacional são conhecidos por todos: gera emprego, eleva a arrecadação do município e valoriza o mercado imobiliário. Esses bens facilmente observáveis, porém, não são as únicas vantagens atreladas ao estabelecimento de uma grande empresa numa região. Detentoras de práticas de gestão de alto nível, as multinacionais ajudam a disseminar conceitos desconhecidos ou não praticados por companhias locais e familiares. Por consequência, sua presença tem um impacto direto na qualidade dos profissionais da cidade em que estão instaladas.
Por isso a transferência da diretoria da Kraft de Curitiba para São Paulo, anunciada em maio passado e a ser concretizada em janeiro, é apontada como motivo de preocupação por analistas do mercado. No caso do Paraná, não só a saída mas especialmente a ausência da chegada de novas grandes empresas colobora para o empobrecimento do perfil dos profissionais daqui.
Após 11 anos em Curitiba, executivo volta a São Paulo
O executivo Eduardo Tadeu do Rosário, de 46 anos, está deixando Curitiba depois de 11 anos na cidade. Ex-funcionário de uma empresa do setor de alimentos, ele voltará a São Paulo no início do próximo ano. Depois de seis meses de busca por uma recolocação profissional, optou por retornar ao mercado paulista, onde acredita ter maiores oportunidades.
Rosário faz parte de um contingente de profissionais que chegaram a Curitiba sob a promessa de melhor qualidade de vida e futuro profissional. “Acho que a cidade perdeu muito nos últimos anos. Hoje vou buscar minha filha na escola e passo quase 50 minutos no trânsito. Quando a qualidade de vida, que é um dos maiores atrativos da cidade, começa a ficar questionável, a opção de voltar para São Paulo volta a ser atraente”, diz.
Ele reclama da falta de opções para cargos de alto escalão. “Real­mente sinto que em Curitiba a disponibilidade de emprego está muito pequena, e parece que é um movimento que vai se agravar, porque não vemos grandes em­­presas se estabelecendo na região. Se você pega a região de Barueri, em São Paulo, vê que ela está bombando. O problema é que aqui o governo não está sabendo segurar as empresas. Por exemplo, fazer obras que realmente façam a diferença. Que daqui a 20 ou 30 anos sejam um diferencial.”
Para o gerente regional da unidade de Curitiba da empresa britânica de caça-talentos Michael Page, Roberto Picino, um dos problemas da cidade é a falta de grandes empresas do mesmo segmento, o que limita as possibilidades para o profissional. “Já houve um momento em que Curitiba incentivava e trazia mais as multinacionais”, pontua.
Impostos
Essa falta de estímulos para o estabelecimento na capital, porém, é questionada, especialmente pelo setor de tecnologia. “Em relação à diminuição da vinda de empresas, acho que isso está mais relacionado com o incentivo fiscal, no âmbito do ICMS [tributo estadual]”, diz Fernando Estrázulas, diretor da Wipro Technologies para a América Latina, com sede em Curitiba. “No caso das empresas de prestação de serviço, como a Wipro, fomos muito bem recebidos na cidade – com incentivo de ISS [Imposto sobre Serviço, tributo municipal].”
“As multinacionais transferem para as regiões onde estão instaladas políticas de mercado e tecnologia de gestão”, afirma Ramiro Gonçalez, professor do MBA da Fundação Instituto de Adminis­tração USP e do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administra­ção da UFPR. “Mais do que jargões, essas técnicas de administração ajudam a criar conceitos de governança corporativa e métricas de negócios. Isso ajuda a formar entre os profissionais conceitos que aumentam a eficiência e a produtividade. Por isso, infelizmente, há um esvaziamento nessa transferência tecnológica com a saída da Kraft de Curitiba”, diz.
A falta de incentivo por parte do governo estadual é apontada como maior causa para o fim desse movimento de chegada de multinacionais nos últimos anos. Além disso, a qualidade de vida e a infraestrutura de Curitiba e região já não chamam mais atenção como antes, especialmente quando comparada ao fim dos anos 1990, década da chegada das montadoras ao estado.
No caso da Kraft, a ida da diretoria para São Paulo ocorreu após a compra da Cadbury, que já possui instalações na capital paulista. Ao todo, 13 diretorias foram deslocadas, incluindo toda a área de marketing e de vendas. A em­­presa afirma que faz mais sentido essas áreas ficarem em São Paulo, onde estão concentradas as agências de propaganda e os institutos de pesquisa.
Escola
“Toda multinacional pode ser considerada uma grande escola. As multinacionais têm suas peculiaridades, investem em treinamento e na formação dos profissionais. Isso acaba diferenciando os profissionais dessas empresas daqueles que atuam em firmas nacionais ou locais”, diz Carla Mello, diretora geral da Acta e da DBM em Curitiba, empresa especializada em outplacement.
Para Gonçalez, Curitiba está numa posição privilegiada e precisa se aproveitar da situação se quiser chegar a um patamar de mercado de trabalho de alto nível. “Temos tudo: ótimas universidades, um bom sistema de telecomunicação, mão de obra qualificada e uma invejável posição geográfica – próxima ao maior mercado consumidor do Brasil, São Paulo, e próxima ao Mercosul. Somente seremos inovadores se tivermos um pólo industrial e de serviços que desafie essa mão de obra qualificada. Para isso, é preciso mais incentivo do poder público para que grandes empresas escolham Curitiba como base regional.”
Longo prazo
O problema se alonga no longo prazo, diz Carla. “Em termos de bens intagíveis, a saída de uma multinacional faz a cidade perder mas­sa crítica, pessoas com base só­lida de trabalho e boa formação. Quem tem esse perfil profissional cos­tuma investir nos filhos da mesma forma, dando ênfase na educação e nos valores para se construir uma carreira. E esses filhos também vão embora com essa migração.”

sábado, 11 de dezembro de 2010

PLANOS DE NEGÓCIOS E INCERTEZAS MACRO ECONÔMICAS

No dia 8 de dezembro, Martin Wolf, o editor e principal comentarista econômico do Financial Times fez uma análise interessante sobre o futuro da zona do Euro. (recomendo quem for assinante a leitura integral do artigo).
Faço aqui minhas considerações sobre as 3 principais hipóteses:

1) qual a probabilidade de uma onda de inadimplência nos países periféricos do Euro? . Ele diz ser ALTAMENTE PROVÁVEL. E seu raciocínio passa dor 2 conceitos: estoque e fluxo. Alguns países atingiram um estoque de dívida tão alto e seu fluxo é ainda negativo que uma reversão ao longo do tempo é improvável (Ex. Grécia);
2)A zonda do Euro implementará  mudanças necessárias para evitar isso?
Ele não se mostra confiante em medidas realizadas pelos países do Euro em resolver isso. A Alemanha (e seus cidadãos) começam a questionar se vale a pena pagar a orgia de gastos dos países periféricos;
3)Poderá a zona do euro sobreviver a elas?
Ainda não está claro quais interesses prevalecerão no processo. Resposta ainda incerta.

"O que vem acontecendo é algo familiar a especialistas em países emergentes: é uma "parada súbita". Antes de 2007, havia crédito disponível em condições fáceis a ponto de financiar bolhas nos preços de ativos, construção civil e consumos privado e público. Então, repentinamente, os mercados adotaram um comportamento de sobriedade: os financiamentos secaram, os preços dos imóveis caíram, a construção civil sofreu um colapso, governos passaram a garantir dívidas de sistemas financeiros no vermelho, economias entraram em recessão e déficits fiscais explodiram."

A questão é se esses países podem evitar uma reestruturação da dívida soberana. Sobre isso, o professor Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), é pessimista. Em nota recente, ele argumentou que "em última instância, uma reestruturação significativa da dívida privada e/ou pública é provavelmente necessária em todos os países endividados na zona euro. Já sofrendo crescimento lento antes da imposição de austeridade fiscal, [Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha] enfrentam a perspectiva de uma "década perdida", similar à que a América Latina viveu nos anos 80.

Na europa a questão imediata é que a crise poderá ser enorme, pois parece certo que uma reestruturação disparará outras. Além disso, o sistema bancário seria profundamente afetado.

Martin Wolf continua:
"Para os céticos, o cerne da questão sempre foi até que ponto pode ser robusta uma união monetária entre diversas economias com solidariedade mútua menos do que ilimitada. Apenas uma crise poderá responder a essa pergunta. Infelizmente, a crise que temos é a maior em 80 anos. Será que a zona euro conseguirá acordar em fazer o suficiente para mantê-la coesa? Não sei. Mas saberemos, todos nós, em futuro relativamente próximo".

Como isso poderá impactar o Brasil? Estaremos preparados para uma crise de insolvência na Europa que poderia reduzir fluxos comerciais e IED para o Brasil? Aprendemos algo com a crise americana de 2008 e a futura crise do Euro de 2012?

Prof Ramiro Gonçalez - FIA
Inteligência de mercado e mídia
@ramirogoncalez -> http://que-midia-e-essa.blogspot.com/
ramirogon@uol.com.br
Autor: Mídias e Negócios e QUE CRISE É ESSA?